Recebo do leitor V. P. S. uma interessante cartinha em que ele vaza a sua dor suprema:
"Tenho um filho de 17 anos, ele é bonito, forte, inteligente. No entanto, revela indícios muito claros de que é ou será um homossexual passivo. Os seus gestos, as suas palavras, a sua entonação de voz são nitidamente femininos. O que eu queria saber do senhor é se é impossível reverter essa tendência, afinal não era essa a minha expectativa e se for confirmada essa inclinação eu adivinho para minha família grandes complicações. Dá ainda para reverter?".
Resposta de Paulo Santana:
Esta consulta ficaria mais bem dirigida a um neurologista, mas como o assunto me fascina, vou dar-lhe a minha resposta.
Em primeiro lugar, sabe o leitor que me escreveu por que quer "reverter"? Porque é acometido de uma carga cultural de séculos e séculos de preconceito contra os homossexuais.
Na Antigüidade, por exemplo, havia preconceito contra os canhotos. Aqueles que não eram destros, em certas civilizações, eram considerados malditos.
Na Idade Média e em épocas anteriores, os canhotos eram sacrificados, mortos. Eram feitos testes com as crianças, se se verificasse que ela era canhota, matava-se-a.
Então, ser homossexual é como ser canhoto ou ser destro. Não há como modificar-se essa tendência.
Existe uma picaretagem, da qual peço que o senhor não seja vítima, por assim dizer não ingresse nela, que consiste em prometer-se, por parte de terapeutas, que se vai curar uma pessoa do seu homossexualismo.
Não se trata de consertar-se nem curar-se uma pessoa homossexual porque essa condição não é uma doença. Já por sinal posso afirmar que doença é tudo aquilo que pode ser revertido pela Ciência.
Como o homossexualismo não pode ser revertido, ele não é doença.
O homossexualismo é implantado na mente e no corpo de uma pessoa por uma cadeia de impulsos determinada pelos neurotransmissores cerebrais, associada ao estamento hormonal.
Não querer um filho homossexual, rejeitá-lo ou revoltar-se por isso é como se um pai e uma mãe desejassem ter um filho masculino e tendo o bebê nascido feminino se inconformassem com isso e o desprezassem.
Sexualmente as pessoas se dividem em heterossexuais e homossexuais. Elas são assim, essa marca é como o DNA de uma pessoa, ou seja, imodificável.
O que o senhor tem a fazer, meu caro leitor que me deu a honra de consultar-me, é aceitar essa condição homossexual de seu filho como um fato natural, absolutamente freqüente na cadeia de produção da natureza.
Evidentemente que o senhor terá de enfrentar uma colossal luta daqui por diante contra as convenções e os preconceitos.
Eu sugiro ao senhor que lidere esta luta. Que chame seu filho, embora isso inicialmente vá lhe parecer constrangedor, e explique tudo isso que está escrito acima a ele.
E diga que ele assuma o seu papel perante a vida como uma condição absolutamente normal, que siga naturalmente a sua vocação sexual, que para isso contará com seu apoio incondicional.
Encha de coragem o seu filho para enfrentar o preconceito, marche ao seu lado, orgulhe-se dele como pessoa, faça-o sentir confiança e deixe que a vida se encarregue de todos os detalhes desse percurso.
Principalmente transmita a seu filho que ele é um ser humano igual a todos os outros, que em nada se diferencia dos seus semelhantes – e que, se sua função sexual se coaduna em exercê-la com pessoas do mesmo sexo, assim o será, com a cabeça erguida, que ele, seu filho não será a primeira vítima de preconceitos de toda a ordem, que permeiam as relações humanas.
Mande seu filho seguir em frente altivo. E garanta-lhe que o senhor será o seu principal companheiro nesta sublime batalha.
Que se existir vergonha, exista na cabeça dos outros, jamais na dele.
Fonte: Gisele Almeida por E-mail